terça-feira, 17 de julho de 2012

Hoje tem espetáculo? Tem sim senhor!

Que a política brasileira virou sinônimo de palhaçada isso todo mundo já sabe. Mas perceber-se público deste espetáculo fazendo o real papel de palhaço falta muito aos eleitores. Ontem ao lavar minhas cuecas, que por sinal são mais dignas do que a de muitos políticos que guardam nosso suado dinheirinho, ouvi um carro de um candidato budejando sua campanha como um ser honrado, digno e justo. Sim, justo. Não quero aqui ser arbitrário e me dá ao luxo de jugar o caráter de ninguém, mas em se tratando de política...

deixemos nas reticências...

Pois bem, já me era ultrajante demais saber que um sujeito com dotes circenses iria se candidatar a vereador neste reino cor de rosa. Mas logo dois? Dois candidatos do meio circense? É uma ode ao Tiririca ou uma moda politiqueira?

Fico a pensar naqueles que irão votar em tais figuras; Pessoas de alto nível político? Adolescentes que recém tiraram o título antes dos 18, mas que não sabem o real significado de tal ato? Universitários militantes da causa estudantil? Pseudos-intelectuais com a velha desculpa do tal voto de protesto? Bem, triste fim de Policarpo Quaresma... ou seria triste fim da política mossoroense que já vem algum tempo sofrendo de representatividade séria?

E ai, voltei a me questionar: dois palhaços? Putz, me dei conta de que minha matemática estava assaz enferrujada. Pena queridos mossoroenses, pena, não são apenas dois palhaços... são muitos... muitos

Em outubro vai ter espetáculo? Vai sim senhor! E o palhaço quem é? Nós, eleitores!

"Um povo tem o governo que merece" Nicolau Maquiavel

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Saramaguiando ou A Alegoria da Sala de Espera

Entre praguejo e acalorados elogios, me pega na madrugada deste belo dia para irradiar minha alegria com este belo texto. Que todo mundo sabe que sou fã da Marília Bernardo isso não é nenhuma novidade. Mas ao ponto de compará-la ao meu mais nobre escritor... ai já é demais? Nem pensar. Diante de seu último texto, meu amigo Rafael chegou a comentar que sua forma de escrever lembrava o mestre Douglas Adams. Neste novo texto, eu mesmo fiz as analogias. Achei de uma sutiliza tão brilhante que me fez lembrar a divindade, José Saramago. Chega de bajulação, ela é ainda maior que isso. Leiam, vale a pena, vale a galinha, vale a granja toda. Só tome cuidado, você poderá ser diagnosticado no fim do texto.




 Ouvi certa vez um cristão dizendo que a vida terrena era como uma sala de espera. Eis que não tive oportunidade melhor para destilar a minha ironia.

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            Suponha que há um novo Médico na cidade. Muito se ouviu dizer sobre Ele, sobre Suas curas esplêndidas e sobre o quão bom Ele é. Muitos dizem falar com Ele diariamente e um número maior ainda de pessoas acredita em tal coisa, ainda que ninguém de fato pareça sequer ter visto tal Médico pessoalmente. As pessoas que alegaram ter se consultado com o Médico saem apregoando por aí os feitos Dele, dando supostos testemunhos e relatando "milagres"; ainda que tais eventos sejam comuns no universo da Medicina. Porém, sempre atribuem o termo milagre ao que desconhecem e mais intrigante ainda é o desinteresse profundo em fazer tal coisa. Falar do que não se sabe ou do que não se tem evidência são hábitos terríveis de quem se consulta com esse Médico. Mas isso não parece incomodá-las e a certeza de que agora elas estão sadias é confortável demais para fazê-las mudarem de opinião; afinal, elas só reconhecem apenas um único Médico, que prometeu saúde eterna a todas elas. O fato de não haver garantia concreta disso não é evidente para a maioria. Não há a menor prova sequer de que tal Médico exista ou, que se existe, seja bom, ou ainda, que se importe com seus pacientes.

            No mais, quem se consultou com o Médico desenvolveu a terrível mania de diagnosticar doenças nas outras pessoas e a dizer que elas deveriam se consultar com tal Médico. Depois que alguém teve a ideia de se consultar com esse Médico e, pior, de achar que todos deveriam fazer o mesmo, a coisa ficou realmente feia naquela cidade. O Médico, por sinal, dizem que tem uma série de requisições para que alguém seja Seu paciente. Quase que mandamentos. Mas o comodismo, a inércia, de quem procura tais consultas não permite indagações.

            Nada de questionamentos. Funciona melhor assim.

            Doente ou não, havia gente lotando o consultório do Médico, procurando por verdades e conforto. Havia tantos profissionais certificados de sua eficácia à disposição, naquela mesma cidade, mas eles foram postos de lado porque havia uma histeria coletiva de que apenas aquele Médico era quem verdadeiramente curava.

            As Clínicas em que o Médico supostamente atendia eram ricas agora. Havia uma imensa e inegável procura. Muitos Enfermeiros executavam procedimentos alegando estar fazendo o que o Médico mandara. E, se algo saísse errado, era "porque o Médico quis". Os pacientes não questionavam se os Enfermeiros eram capacitados, simplesmente confiavam. A tal da fé. E se fosse a Enfermeira Chefe quem estivesse fazendo o procedimento, aí é que não havia a menor indagação mesmo. Diziam que ela era a mãe do Médico e que O ajudava quando Ele estava ocupado. Assim, ela O ajudava sempre.

            Sentadas nos sofás e cadeiras da sala de espera, as pessoas aguardavam pacientemente ou não a sua vez. Alguns se achavam mais dignos do que os outros de serem atendidos. Outros tinham certeza de que o propósito do Médico era o de curá-los, exclusivamente, como se fossem os únicos realmente necessitados da cura. Quem se consultava com o Médico também se achava mais sadio do que quem não o fez. Havia também a crença de que as consultas deveriam ser regulares, semanais.

            Que estivessem doentes ou não.

            Fazia-se um certo silêncio na sala de espera, onde todos acreditavam verdadeiramente de que seriam atendidos. A maioria lia panfletos e livros sobre o Médico, o que era uma soma considerável de leituras. No silêncio, alguns procuravam por algum sinal de que o Médico estivesse mesmo lá dentro da sala Dele. Faziam um esforço e nada ouviam. Ninguém entrava ou saía do consultório. Uns poucos, com o passar das horas, desistiam de ficar ali porque chegavam à óbvia conclusão de que foram enganados.

            Não havia Médico algum.
           
            Não havia nada ali.

            Nada.

            Nada mesmo.

            Nenhuma explicação para a sua doença, se afinal doenças existem mesmo, se é possível curá-las, quais são curáveis, como se tratar, por que as doenças existem, por que pessoas boas adoecem, se só é saudável quem vai ao Médico e uma porção de perguntas importantes que são diariamente caladas porque incomoda ainda não ter as respostas. O que definitivamente não significa que se deve calá-las.

            Perguntas são importantes.
           
            A partir delas, algumas pessoas, ainda que poucas, puderam notar que algo estava estranho na sala de espera e em tudo o que se referia ao Médico. Tudo começou com pequenas perguntas mentalmente feitas e uma leve desconfiança de que algo estava errado, o que desencadeou a importante ação de deixar a Clínica e de procurar por profissionais eficazes, por respostas satisfatórias, por evidências. Por algo não somente sensível, mas por algo racional.

            O Médico não era nenhum dos dois.

            Para os que perceberam que foram enganados, foi um bom negócio ter concluído que o Médico não existe. Boa parte deles também concluíram que nunca estiveram doentes, e os que ainda se sentiam assim, procuraram por real ajuda.
           
            Para os que continuam na sala de espera, acreditando cegamente nos panfletos da Clínica, no que se ouviu dizer, e sequer questionando a existência do Médico e também não pretendendo fazer tal coisa, há um evidente diagnóstico.

            Ignorância.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Exemplo das questões para as avaliações

Galera, desde que a Filosofia foi implantada no Ensino Médio, os profissionais desta área se preocuparam em como avaliar seus alunos. Que tipo de questões cobrar em uma prova de Filosofia? Como deveriam ser as questões de cunho objetivo? Como seria uma questão filosófica que pudesse ser inserida em um vestibular? Bem, quanto ao debate deste tema deixo-o para os pedagogos. O que sei porém é que devo aplicar em minhas provas o que acho conveniente para a aprendizagem dos meus alunos. E por falar em alunos, os novatos se intimidam com o nível e tipo das questões na prova. Atendendo aos pedidos dos mesmos, seguem alguns exemplos de questões que poderão vir a ser cobradas nas avaliações. Sucesso e Estudo galera!!!


Exemplo 1


 Leia a frase e a seguir responda corretamente o que se pede:

“Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mundo está ordenado. Os deuses disputaram entre si, alguns triunfaram. Tudo o que havia de ruim no céu etéreo foi expulso, ou para a prisão do Tártaro ou para a Terra, entre os mortais. E os homens, o que acontece com eles? Quem são eles?”
(VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. Trad. de Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 56.)
O texto acima é parte de uma narrativa mítica. Considerando que o mito pode ser uma forma de conhecimento, conceitue mito e explique por que não podemos identificar o mito como sendo sinônimo de mentira.

Exemplo 2
O grande impasse entre heteronomia e autonomia ocorre na adolescência, período de contradições em que, abandonando as características infantis, o indivíduo ainda não assumiu as obrigações e as responsabilidades da vida adulta. O psicólogo suíço e filósofo Jean Piaget elaborou a teoria conhecida como psicologia genética, base para a aplicação de fecundas práticas pedagógicas. Segundo essa teoria, não há inteligência inata: a gênese da razão, da afetividade e da moral avança progressivamente em estágios sucessivos nos quais a criança organiza o pensamento e o julgamento. Por isso sua teoria e as que dela derivam são chamadas construtivistas, já que o saber é construído pela criança, e não imposto de fora. Com base nos seus estudos, escolha um dos quatro estágios do desenvolvimento cognitivo elaborados por Piaget, os quais demonstram a formação e desenvolvimento do caráter ético e moral do sujeito e disserte sobre o mesmo.


Exemplo 3
Analise o texto a seguir e disserte sobre o tema proposto

“Vivemos num mundo que valoriza as aplicações imediatas do conhecimento. O senso comum aplaude a pesquisa científica que visa à cura do câncer ou da aids; a matemática no ensino médio seria importante por “cair” no vestibular; a formação técnica do advogado, do engenheiro, do fisioterapeuta prepara para o exercício dessas profissões. Diante disso, não é raro que alguém indague: ‘Para que estudar filosofia se não vou precisar dela na minha vida profissional?’”
Tema: A importância do pensar em uma sociedade alienada.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Se eu fosse eu.

Galera, comentei esta semana na primeira aula de Filosofia para inúmeras pessoas o quanto gosto deste texto da Clarisse Lispector. É uma pena que as redes sociais tenham, de certo modo, banalizado a figura desta ilustre escritora. Refletindo sobre as questões existenciais, nos deparamos em sala de aula que pouco conhecemos daquilo que julgamos realmente conhecer. Abaixo, o texto:

Quando eu não sei onde guardei um papel importante e a procura revela-se inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar, diria melhor SENTIR. 

E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser movida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas e mudavam inteiramente de vida. 

Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua, porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei. 

Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo que é meu e confiaria o futuro ao futuro. 

"Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. 

No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teriamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos emfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando, porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.


Texto extraído do livro A Descoberta do Mundo de Clarisse Lispector. Ed Rocco, pg. 156