segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Meio


Conheci Dickson muito antes dele ser meu aluno. De convicções fortes e temperamento carismático, posso dizer que ele é daqueles que todo mundo quer trocar algumas palavras. Se configura como um amigão. De sua inteligência ,eu nunca duvidei. Bloggueiro e músico, foi intimado por minha pessoa para escrever para este humilde blog. Gente, o texto é grande, mas vale muito a pena (para aqueles que não gostam muito de ler uahuahuaa), vocês vão adorar.

"Acordei, olhei para todos os lados e não vi nada além de muita areia. O vento era forte e seco. Chegava-me com tanta ferocidade que cheguei a imaginar que ele estava com raiva de mim. Mas de uma coisa eu sabia... Eu tinha voltado para aquele deserto.

Eu não sei como voltei ali. Nem me recordo para onde fui depois que consegui sair daquele lugar. Andei incessantemente para todos os lados. Estava começando a desistir quando, de longe, encontrei o homem com a túnica preta que tinha encontrado na última vez em que eu estive aqui. Ele estava em um camelo grande... Não sei se realmente era um camelo. Não entendo de camelos. Mas então fui falar com ele.

- Hei! Tu sabes quem eu sou? – perguntei interessado.

- Não faço idéia de quem tu sejas. – de fato, era uma pessoa diferente, porém, com o mesmo tom de voz de superioridade.

- Podes me dizer por onde posso sair deste lugar quente? – tentei sem esperanças.

- Saia pelo mesmo lugar de onde entrou! Ora! – disse ele, como esperado.

Então eu disse:

- Não sei como vim parar aqui. – esperei um pouco, mas ele não falou nada – Na verdade, eu já estive aqui uma vez, e consegui sair. Mas agora não sei mais como fazer isso.

Eu não sabia se ele estava olhando para mim. A sua roupa era como uma daquelas que as mulheres árabes usam para esconder suas identidades. Mas de alguma forma, pude sentir que olhava para mim.

- Não sabes mais como sair? Talvez tu nunca tivesses saído.

- Já saí sim... Lembro de ter dormido. – eu já estava começando a fica bravo.

- Aparte-se de mim! Não sabes aceitar sugestões!

- Estás apenas me acusando!

Então, ele desceu do seu camelo. Era bem mais alto que eu. Chutaria mais ou menos 3 metros. O homem de preto levantou sua mão esquerda e colocou sobre o meu ombro. Disse ele:

- Meu garoto, vá e ache a tua flor, a que perdestes da última vez. – falou mansamente.

- O que? Como sabe dessa história? Encontrastes a minha flor?

- Sim, e a plantei em outro local. Agora vá! Busque-a!

Corri feito um louco para todos os lados, deixando as pegadas fortes para trás. Eu já estava exausto, quase desmaiando, quando ao longe avistei um pequeno ponto no horizonte. Será que era ela?

Avancei pesadamente com minhas últimas forças, e era ela. A minha antiga flor. Mas agora ela estava preta, não parecia ter o mesmo sabor de vida de antes. Agora ela não me acalmava mais, não me confortava... Ela só me dava mais tristeza. E isso me corroia por dentro, deixei tudo acabar facilmente. Não lutei para levá-la comigo.

- Flor... Porque estás triste?

Então, em apenas um piscar de olhos, toda a areia se desfez, e eu estava pisando em um solo rachado como um de um deserto, mas a coloração era negra. E a flor estava lá dentro de uma rachadura. Eu ia pegá-la, mas alguém pôs a mão em meu ombro e eu não tive coragem de olhar para trás. Apenas escutei o que dizia aquela voz mansa, porém firme.

- Ela era filha da sua dor. Agora é filha da sua felicidade. Ao contrário do que você pensa, as coisas aqui neste lugar não são tão claras. – ele deu uma breve pausa – Essa flor morreu porque você estava feliz demais para lembrar dela. Agora ela é filha da sua felicidade. Vê o que fez a tua felicidade com esta pobre flor que te ajudou a passar por esse deserto da última vez?

- Não foi minha intenção. Eu achava que ela estaria bem. – me controlei para não chorar.

- Tudo bem. Existem erros que não podem ser apagados, e esse é um deles. Porém, você pode corrigi-lo.

Com todo o cuidado do mundo, toquei na flor e a tirei da terra seca. De alguma forma, saíra algumas gotas de sangue de sua base e ela clareou mais.

- Cuidarei de ti, sempre.

Olhei para trás e o homem não estava mais ali. A única coisa que eu via era uma luz, e de dentro dela vinha uma brisa suave com cheiro de rosas. Não hesitei e caminhei até lá. Seja lá o que fosse, era bom para minha flor.

Assim que toquei a luz, fechei os olhos e escutei uma mulher dizendo:

Há muito tempo venho tentando

- Sobreviver nisso que chamam de vida

A loucura aos poucos vai se apossando

Ninguém escapa

Fico a andar

Desgastado por tudo

O ar não é mais ar

Eu mesmo estou acabando com o mundo

Todo ser, todo poder

Toda dor, todo amor

Todo ganhar, todo perder

Está em nossas mãos

O coração reclama da alma

A alma reclama da vivência

Não se tem mais aquela calma

Estamos todos em decadência

Vivi a vida como se não houvesse amanhã

Vi que tinha amanhãs demais por vir

Então não adianta manter sua mente sã

Pois a loucura vai te afligir

Penso todas as tardes em como sou

Reflito sobre como estou

Acho que não fui eu quem escolheu

Acho que não fui eu quem viveu

Acho que o mundo me envelheceu

Acho que a vida me escondeu.

Então eu simplesmente dormi."

O que aconteceu depois? Eu, sinceramente não sei. O próximo capítulo ainda está sendo escrito. Peço desculpas para as pessoas que não entenderam absolutamente nada... Certas coisas são feitas sentir.

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